Cada ser humano desenvolve ao longo da vida critérios
pessoais e escolhe paradigmas de comportamento que em seu conjunto formam um
padrão ético singular, único; sempre lembrando que não existem duas pessoas
iguais após alguns anos de vida. Tudo o que acontece é base de ajustes e até de
mudanças radicais.
Estamos acompanhando (mais uma vez) um período de
radicalização de ideologias, religiões, códigos secretos, discretos e públicos
que levam inúmeros jovens a atitudes extremas. Com imenso pesar sentimos que as
pessoas mais velhas se protegem, mas estimulam e aplaudem comportamentos que
estão de acordo com suas convicções e conveniências (principalmente).
Tivemos no século 20 cenários que foram de um extremo a
outro, uma prateleira de experiências dramáticas. Em algum momento desses
tempos ganhamos até a impressão de que a Humanidade evoluía muito,
principalmente em torno da serenidade e tolerância, inclusive em relação
àqueles que se mostram extremistas.
Agora, que frustração os noticiários criam diariamente para
quem, já idoso, se lembra das fantasias e sonhos de muitas décadas passadas.
Naturalmente nações inteiras são obrigadas a se defenderem
de grupos de pessoas que decidem destruir tudo o que contraria suas crenças; o
que é fundamental, contudo, é não radicalizar, pior ainda, instigar e motivar
violências genéricas. Para quê? Para provar utopias induzindo qualificações que
colocam muito mais gente com o carimbo de terroristas e coisas semelhantes?
Imaginamos que vivemos com democracia, por exemplo,
desprezando o poder de grupos organizados que mandam e desmandam em nossas
vidas, alguém duvida? Ou seja, nossas ilusões criam miragens...
Em relação a povos dominados por fanáticos precisamos de
inteligência e competência para não alimentarmos crenças violentas e a
indústria e comércio da guerra, os interesses petroleiros, a exportação de
ódios e sofrimentos, enfim, a cultura da violência, que tanto dinheiro dá a
certos cineastas e artistas, além de, evidentemente, fama para políticos e
medalhas para os mortos. É bom não esquecer que conveniências dinásticas e
tribais, e a partir do século 19 o nacionalismo radical, a xenofobia, o racismo
e as ideologias políticas sempre mataram mais do que as religiões. Se alguém
duvida vale a pena conhecer em detalhes a letra dos hinos nacionais de países
que se dizem modelo de civilização.
Criamos códigos de ética formais e nas empresas, família,
escolas, filmes, livros etc. poderemos estudar e decorar autênticos catecismos,
mas a dúvida também precisa ser estimulada. A vacina contra o radicalismo é
compreender que simplesmente somos insignificantes e incapazes de fazer certas
afirmações.
A dúvida abre o coração e estimula o amor ao próximo, pois
com muito mais facilidade conversaremos, teremos amigos e amigas. Humildade,
disposição para o diálogo e determinação para aprender e educar para a
liberdade deveriam ser nossa missão em relação a todos que se dispõem a ler e
ouvir nossas visões éticas e culturais (atenção, estamos colocando nossas
convicções...).
Pesquisar, ouvir e ver com certa malícia reportagens e
notícias dão maturidade. É ingenuidade acreditar sem questionar e imaginar o
que realmente move lideranças que em atos solenes, por exemplo, dizem que
devemos salvar o mundo. Principalmente em atos que dependem de aceitação pública
é fácil perceber o radicalismo até de pessoas que se dizem a favor da
liberdade, fraternidade e igualdade. Políticos, por exemplo, sabem que vencer
campeonatos ou guerras redimem a popularidade perdida pela incompetência.
Lideranças civis e militares em geral não são diferentes, a “lavagem cerebral” e
apelos a sentimentos que Freud e Jung explicaram tão bem é rotina.
E nós?
Precisamos viver com muito cuidado, escolhendo caminhos e
referências de valor. Nesses tempos de redes sociais, portais, internet, sistemas
de comunicação instantânea e mais e mais excelentes escritores, sociólogos,
filósofos, cineastas, psicólogos e especialistas em tudo que pudermos imaginar
aprender é infinitamente mais fácil onde a liberdade existe, se compararmos a
cenários de algumas décadas passadas.
Podemos e devemos construir nossos códigos de ética sim, sem
ingenuamente aceitar passivamente padrões e modelos externos.
Cascaes
17.01.2015